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Memória extracerebral ou síndrome da falsa memória?

É uma pergunta que poucos formulam mas cujas conseqüências são extremamente instrutivas. Em que lugar do cérebro se armazena a lembrança de vidas passadas? O psiquiatra Brian Weiss responde: "Ninguém sabe. Para alguns, a informação se encontra em um campo energético ao redor do corpo". O problema do "suporte" da memória de um espírito desencarnado -por definição sem matéria- põe em sérios apuros aos que acreditam; alguns, inclusive, procuraram novas definições para jogar um véu de cientificismo a um tema basicamente religioso; é o caso dos autores que chamam o hipotético suporte "memória extracerebral".

Enquanto os que aderem à crença de vidas anteriores devem encher páginas e páginas com casos supostos -quer dizer, com muitas afirmações que ainda não podem demonstrar- psicólogos, neurofisiólogos e psiquiatras procuram explicações às anomalias da memória apoiando-se em fenômenos que sim são observáveis, como o são o cérebro, o comportamento e as crenças das pessoas.

Assim, a aceitação de memórias que poderiam ser falsas deu lugar a um imenso campo de investigação. E agora sim se sabe, por exemplo, por que as falsas memórias se parecem tanto com as reais. Stephen Kosslyn, da Universidade de Harvard, descobriu que a zona do cérebro encarregada de perceber uma imagem e de arquivá-la como uma memória também se ocupa da imaginação dessa imagem. As fronteiras entre feito imaginado e feito percebido são imprecisas porque, em ambos os casos, entra em atividade a região temporária média do cérebro. Diante da dificuldade de recuperar lembranças confiáveis, os partidários da hipnose regressiva partem para citar o caso de pacientes que revivem sua infância ou dão detalhes específicos de sua vida intra-uterina. Para o psiquiatra Nicholas Spanos, por exemplo, o hipnotizado em realidade não se comporta como a criança que realmente foi e sim como imagina que se comportaria uma criança de certa idade: seus estudos demonstraram que os regressos tendem a superestimar as capacidades intelectuais e as habilidades das crianças. A possibilidade de evocar experiências da etapa fetal, por outra parte, é descartada pelo senso comum. "A imaturidade neurológica dos bebês antes de nascer -escreve Spanos- impede de conservar e muito menos interpretar lembranças."

HIPNOSE: CONFIANÇA CEGA
Outro estudo mais recente realizado em agosto de 2001 pelo doutor Joseph Green, um professor da Universidade Estadual de Ohio, concluiu que o mesmo uso da hipnose alimenta a convicção de que um acontecimento imaginário existiu em realidade. Durante uma reunião da Sociedade Americana de Psicologia, o estudioso explicou que a hipnose -ao invés de recuperar memórias "perdidas"- gera falsas lembranças, e que as pessoas confiam mais em sua memória quando a hipnose é a ferramenta utilizada para "recuperá-las".

Green entrevistou 96 estudantes universitários sobre o dia, mês e ano de certo evento histórico. Quase a metade dos jovens responderam sob hipnose, enquanto que a outra metade realizou um exercício de relaxação muscular antes das perguntas. Quando o teste acabou, os estudantes calcularam quanta confiança tinham em suas respostas. "Assim se comprovou que todos tinham ao menos uma resposta errada. Demos a eles, então, uma oportunidade para trocar suas respostas, e dizer quão seguros estavam delas em sua versão revisada" (1). O que descobriu a investigação? Que não havia diferenças na precisão dos hipnotizados se comparados seus relatos com os do grupo que fez exercícios de relaxação. Tampouco houve diferenças no nível de confiança, apenas que os hipnotizados trocaram menos respostas quando lhes foi dada a oportunidade de fazê-lo. "Enquanto a hipnose não reforça a confiabilidade das lembranças, sim parece haver certa evidência de que esta aumenta o nível de confiança na memória", disse Green. Dito em palavras mais singelas: os que foram "hipnotizados" se sentiram mais seguros de que sua memória era "boa" em comparação com aqueles que não o foram. Este achado, segundo Green, tem a ver com os chamados "mitos que rodeiam a hipnose". Em um estudo prévio, Green descobriu que nove de cada dez pessoas em quatro países pensam que a hipnose pode ajudar as pessoas a recordar memórias perdidas. Este lugar comum em relação aos efeitos benéficos da hipnose sobre a memória faz com que os hipnotizados outorguem um grau de confiança a uma técnica que -ao menos quando usada para tentar recuperar a memória- nunca se demonstrou competente.

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