O Languedoc - A Provença Francesa (sul da França - região do Midi francês)
"Toda a história da religião é imersa em sangue cátaro, e os resíduos desse sangue persistem, com muita amargura, até os dias de hoje" - Holy Blood - Holy Grail - Baigent, Leigh e Lincoln.
A Heresia Cátaro-Albigense
A primeira história de genocídio na história da Europa moderna aconteceu no Languedoc francês, no sul da França, nas montanhas a nordeste do Pirineus e no ano de 1209. Um exército de 30 mil homens dizimou as colheitas, destruiu cidades e exterminou mulheres, crianças e homens, pelo menos umas 15 mil pessoas. Há o fato de que um dos oficiais deste exército houve por bem perguntar ao representante do Papa como se conseguiria distinguir os cristãos dos hereges. Recebeu a seguinte resposta: - "Mate-os todos Deus reconhecerá os seus". Estamos nos tempos da "Cruzada" na França. No Languedoc (o Midi francês), controvertida ou não a veracidade desta resposta, entretanto, é o retrato fiel do horror do fanatismo religioso e a sede de sangue originada pela crueldade dos que se diziam representantes de Deus e obreiros fiéis da sua "obra divina".
Nas correspondências mandadas para Roma onde o pontífice nesta época era o papa Inocêncio III, as ordens postulavam que "nem idade, nem sexo, nem posição seriam poupados" - Cidade de Bèziers - início da Cruzada Albigense. Depois de Bèziers foi a vez de Narbonne, Carcassone e Toulouse passarem por estes tempos tormentosos. Esta refrega cruel durou 40 anos e ficou conhecida historicamente como "Cruzada Albigense".
Voltemos às origens da Cruzada Albigense guerra sangrenta, inominável.
No início do século XIII o Languedoc não era francês. Independente, esta região florescia em riqueza e opulência. Sua política se tornara afim com os reinos de Leon, Aragon e Castela espanhóis. O Languedoc era governado por várias famílias nobres que se submetiam aos condes de Tolouse e à sua poderosa casa de Trencavel.
Tirando Bizâncio, este principado tornara-se a mais fiel representação da cultura, do progresso e da sofisticação. Despertava a inveja dos potentados de todo o continente europeu cristão.
Apesar de cristão, o Languedoc não era fanático: a educação, a filosofia, as artes, a ciência avançada e o aprendizado de várias línguas haviam alargado mentes e horizontes, não deixando margem para o fanatismo religioso. Havia também a incidência de outros princípios religiosos que eram exercidos pelo povo: escolas devotadas à cabala judaica, linhas de pensamento islâmico e judeu - os ventos trazidos da Espanha - que encontraram eco na sociedade chefiada por nobres letrados, literatos, num contraste violento com o analfabetismo vigente entre a nobreza do norte francês que mal sabia assinar o seu próprio nome.
A exemplo de Bizâncio, existia uma grande tolerância religiosa na região. Os "ventos da Espanha" sopravam o islamismo e o judaísmo através dos Pirineus e de Marselha, centros de comércio principais do Languedoc, a Provença de hoje, a região do Midi. Os sacerdotes cristãos representantes do cristianismo não eram estimados ou sequer respeitados no local. Sacerdotes corruptos, não se davam nem ao zelo de sequer celebrarem uma missa, no espaço de trinta anos. O povo deles se afastara, nada edificado, devido as suas metas substitutas das tarefas religiosas. Os padres, na sua maioria, tornaram-se latifundiários e se mantinham distantes dos seus paroquianos. Há o fato de que um dos bispos de Narbonne jamais conheceu a sua própria diocese.
Os invejosos, a nobreza do norte e a igreja de Roma, entretanto, haviam descoberto o "calcanhar de Aquiles" do opulento Languedoc. Seguro da sua opulência, o Languedoc desprezara certas regras o que o tornara enfraquecido para fazer frente, com sucesso, às invasões que se armariam depois contra ele. Tornara-se complacente e fraco, sob diversos aspectos e esta fraqueza se tornaria na sede de toda a desdita contida nos acontecimentos vindouros.
Por sua vez, a igreja de Roma havia perdido a sua autoridade na região e tornara-se ávida em explorar a fragilidade do Languedoc atacando-o nos seus pontos fracos, para transformá-lo em mais um súdito do seu poder. O Languedoc está "infectado pela lepra louca do sul" - tornou-se herético - foi o primeiro grito de guerra partido de Roma.
No ano de 1165 os que haviam sido julgados hereges já estavam condenados pelo conselho eclesiástico na cidade de Albi - Languedoc. Esta é a razão da população local ter sido denominada por Roma de "Albigense". Albi era um dos centros desta suposta heresia. Em outras ocasiões os hereges recebiam a denominação de cátaros e na Itália de "Patarines". Os estigmas não se reduziam tão somente a estas nomeações: os hereges recebiam outras pechas - arianos, marcionistas e maniqueístas - nomes dados a heresias anteriores. Entretanto, o que passou para a HISTÓRIA foi a denominação genérica de "heresia albigense ou cátara".
Quem eram os heréticos
A heresia albigense ou cátara, não seguia teologia e doutrina fixas, codificadas, definitivas. Não se constituía nas bases de uma igreja coerente como a de Roma. O que havia de fato era uma multidão de seitas diversas e cada uma delas tomava o nome do seu líder independente. Os princípios eram comuns e os detalhes divergentes. A Provença (o Languedoc) não aceitava o domínio da Roma ortodoxa e a versão do catolicismo romano com o seu credo. Tinha lá as suas fortes razões, entretanto.
Os cidadãos daquela região constituíam-se em campesinos e fazendeiros que ouviam os sermões dos pregadores itinerantes, os chamados "parfaits" (perfeitos), ou os "puros" e eram de ambos os sexos. Os "parfaits" andavam aos pares, o que levou os que os combatiam a espalharem rumores de sodomia. Os "parfaits" trabalhavam nos campos com os campesinos, partilhavam com eles as refeições e com eles rezavam ao ar livre. Eram vegetarianos, mas comiam peixes. Nas suas prédicas os "puros" incitavam à vida simples, à humildade, assim como viveu Jesus. Os "parfaits" ensinavam que a sua crença era mais antiga do que o cristianismo ortodoxo (a palavra: ortodoxo quer dizer: mente estreita - nota do Jornal). Mostravam a semelhança do que pregavam com as prédicas de Jesus e dos seus apóstolos, muito diferente da pregação cristã ortodoxa e de conformidade com o que ensinava o "Livro de Atos" no Novo Testamento.
Levando-se em conta os poucos documentos da Inquisição que escaparam à destruição e outras perdas, podemos verificar que as práticas dos cátaros em relação ao cristianismo possuíam as suas raízes fincadas no cristianismo primitivo, eram antigas e puras, refletindo a aurora e o vigor da igreja primitiva.
Heresias como a do maniqueísmo, invocada pela Inquisição, eram infundadas, não há um só documento cátaro que mencione o nome de Mani. Provavelmente, as antigas raízes cátaras poderiam ser encontradas na prática do cristianismo do primeiro século e também poderiam estar enterradas entre as raízes do "dualismo-apocalíptico" das primeiras seitas judaico-cristãs e o que se encontrou nas Cavernas Qumran. Para estes cátaro-albigenses, a fé não era só uma doutrina a ser pregada e sim um sistema de vida a ser vivido, eles se denominavam cristãos e chamavam o diabo de "Príncipe do Mundo", de conformidade com o que atestou Jesus (João - 12:31).
Os cátaros chamavam à sua igreja: "Igreja do Amor" (Roma de traz para diante ) e nutriam uma devoção intensa por Jesus, o "Emissário da Luz", à sua mãe, companheiros e a Maria Madalena. Enquanto a Igreja de Roma ensinava a obediência irrestrita às leis e às regras doutrinárias a Igreja do Amor ensinava que cada indivíduo pode ser transformado pela ação do Espírito Santo, na sua mente e no seu espírito. Os cátaros diziam que Jesus era o seu Profeta, sacerdote, rei e Messias - um ser humano integral, um agente ungido e o Filho de Deus. Mas também se julgavam, eles próprios, receptáculos do mesmo Santo Espírito. Os cátaros conheciam todos os pontos esotéricos, místicos e mitológicos cristãos pregados por Jesus, como fazendo parte do "caminho" para a santidade e a transformação. Estavam também cientes da corrente da revelação e da consciência religiosa do mundo clássico.
Mais do que tudo, desprezavam que a imersão em uma fonte batismal ou a atenção ao preceito de atender à missa dominical fossem suficientes para a salvação. A sua visão religiosa conceituava a vida cotidiana, levada como estrada para o crescimento das virtudes da caridade, humildade e serviço ao próximo, pregados pelo próprio Jesus, como necessários para se viver na presença de Deus constantemente.
A crença dos cátaros aproximava-se, com incrível semelhança, à GNOSIS (termo grego - CONHECIMENTO) o "conhecimento" de primeira mão da Divindade, sem o auxílio de prelados, sacerdotes, hierarquias religiosas e igrejas materiais. "No lugar da fé aceita em segunda mão, os cátaros insistiam no conhecimento direto e pessoal, numa experiência religiosa ou mística apreendida em primeira mão - GNOSIS".
O Dualismo Cátaro
Se os cristãos acreditam na luta perpétua entre os princípios oponentes, o bem e o mal, Espírito e carne, alto e baixo, os cátaros levavam esta dicotomia mais além, tão além, que a ortodoxia católica não estava preparada para aceitá-la.
Os cátaros julgavam que os seres humanos eram as "espadas" usadas pelos espíritos nas suas lutas, todavia, a ninguém era dada a visão das mãos espirituais. A criação estava imersa na batalha contra dois princípios irreconciliáveis: luz/ escuridão, espírito/matéria, bom/mau.
Na "Igreja de Roma" Deus era o supremo e tinha como adversário o demônio, mas este era inferior a Deus. Os cátaros confiavam que não existia "um só Deus, e sim "dois", cujas posições eram comparáveis: Deus/Um - o puro espírito imaculado. Deus AMOR que era incompatível com o PODER.
Entretanto, racionalizavam - a criação é material, uma manifestação do PODER, portanto, o mundo (criação material) era intrinsicamente mau. A matéria idem. O universo também: a obra de um deus usurpador e mau - O REX MUNDI , como os cátaros o alcunharam.
O "dualismo ético" era apoiado pelo catolicismo: "o mal, embora saído supostamente do demônio, manifesta-se primariamente através do homem e de suas ações"
Os cátaros defendiam um dualismo cosmológico e suas respostas a esta proposição variavam de seita para seita. O propósito do ser humano encarnado era o de transcender a matéria, renunciar a tudo o que manifestasse o PODER e aderir, totalmente, ao princípio do AMOR.
Outros advogavam a recuperação da matéria com a sua espiritualização e transformação.
O princípio feminino florescia no Languedoc enquanto era rechaçado pela Igreja de Roma. As mulheres podiam exercer funções e serem proprietárias dos seus próprios bens em igualdade com os homens. Esta prática mostrava-se idêntica à vigente nas primeiras comunidades cristãs, onde as mulheres se encontravam em pé de igualdade com o elemento masculino.
Os cátaros e Maria Madalena - Descoberta recente
Recentemente, a historiadora e professora americana, Margaret Starbird, M.D., colocou em um livro "The Woman with the Alabaster Jar" (A Mulher com o Jarro de Alabastro - ainda sem tradução para o português), a sua polêmica pesquisa sobre a lenda do Santo Graal. Starbird acabou pesquisando profundamente os cátaros do Languedoc, uma vez que Maria Madalena significava para eles o "Princípio Feminino" ao invés de Maria, mãe de Jesus, também sendo uma das partes principais integrantes da lenda do Santo Graal, que propagavam. Segundo esta pesquisa, concorde com a de outros historiadores modernos e com a história local, Madalena em fuga da Palestina, refugiou-se na Provença (Languedoc) e lá viveu uma vida de pregações até a sua morte.
A pesquisa de Margaret Starbird ampliou-se pelos caminhos da arte, nos desenhos sugestivos deixados pelos cátaros e suas "watermarks" (marcas d´'água) características e com as quais selavam os seus documentos, os poucos que nos restaram. A historiadora acredita que o envolvimento dos cátaros com o Santo Graal era, talvez, a principal razão da perseguição e dos tormentos que a Inquisição arregimentou contra os cátaros - esta, a sua principal "heresia" - escondida dentre outras motivações, pois a verdade oculta nesta lenda (ou heresia) não está contida dentro de um cálice miraculoso e sim no ventre de Maria Madalena, como esposa de Jesus, no sangue do herdeiro do "Sang Real" da dinastia de David, o filho de Jesus e de Madalena - a criança do Santo Graal - na Europa.
Margaret Starbird revela: "Temos discutido um aspecto fundamental deste desencanto enraizado, dos cátaros, a respeito da igreja estabelecida. A crença de que Jesus foi casado e teve herdeiros, foi comum em toda a Provença. Acreditavam que Maria Madalena vivera ali naquele solo e ali foi enterrada juntamente com seu irmão (o chamado Lázaro do Novo Testamento), sua irmã (Marta) e muitos dos seus amigos. Lendas e nomes locais na Provença confirmam esta crença. Também as genealogias secretas de famílias nobres (os Merovíngeos).
Seguindo a "Cruzada Albigense", as filhas sobreviventes das famílias do Midi foram forçadas ao casamento com as famílias do norte, presumivelmente para serem dissipados os clamores de certas famílias do sul à sua herança especial, pertencente à Dinastia Merovíngea. Isto não é novidade. De fato, para consolidar a sua reivindicação ao trono dos Francos, Carlos Magno casou-se com uma princesa merovíngea (do Santo Graal).
Nota: A Dinastia Merovíngea foi fundada por Merovèe, descendente da Linhagem de Jesus e Maria Madalena, segundo a crença enraizada no Midi francês até hoje.Conta-se que os Francos, os Merovingeos, possuíam um ancestral denominado Merovee e a palavra Merovingian quebra-se foneticamente em sílabas onde podemos ler,claramente: Mer e Vin - Maria e o Vinho - . A historiadora diz que esta pode ser uma alusão ao " vinho de Maria" ou talves, o " vinho da Mãe". Os reis Merovíngeos tinham como emblemas a flor-de-Lis oriunda do oriente médio -o gladíolo ou "pequena espada"- e as abelhas . No túmulo do Rei Merovíngeo Childeric I, pai de Clóvis e filho de Merovée ( morto em 481 a.. D.) em Tournai , foram encontradas 300 abelhas de ouro , o totem dos reis Merovíngeos, símbolo sagrado das deusas do amor e símbolo egípcio da realeza. Na "Basílica de Santa Maria Madalena", em Saint Maximin, Provence, se encontra o crânio desta santa recoberto de ouro e que sai em concorrida procissão no dia dedicado a ela.
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